segunda-feira, 7 de março de 2016

Possíveis tratamentos

Bom dia gente, como estão vocês?


No último post do blog comentei com vocês sobre o tratamento da emetofobia. Bem, vamos discutir sobre esse assunto! Na internet, procurei bastante sobre opções de tratamento, mas muito do que se acha fala sobre fobias em geral. Nunca achei nada específico para o medo do vômito em si, mas dizem que a abordagem de tratamento é a mesma para todas as fobias. Existe um único artigo científico em português, de um grupo de estudo brasileiro, que aborda algumas opções de tratamento, como a terapia de exposição a sons, imagens, terapia cognitvo comportamental, hipnose e até mesmo passar pelo processo do vômito de forma acompanhada. Cada psicólogo tem uma forma de se trabalhar, e eu particularmente não entendo nada dessa área, mas faço a terapia cognitivo-comportamental ha 7 meses. Tem me ajudado em muitos aspectos da minha vida, em relação ao meu namoro, ao meu relacionamento com meus pais, meu mestrado, meu emprego... Mas ainda sinto que o problema do vômito só tem piorado ao longo dos meses, e eu minha psicóloga conversamos sobre isso, mas não fazemos nada a respeito.

Quando iniciei o tratamento, achei que faríamos uma série de trabalhos apenas com relação ao vômito, e nem pensei que trabalharia outras questões. Mas minha psicóloga acha que vários fatores da minha vida me levaram a ter medo do vômito, como o falta de cuidado, carinho, atenção, o sentimento de solidão... Sempre quis ser independente, desde adolescente, mas meus pais me prenderam muito dentro de casa... passei a trabalhar muito cedo e pode ser que essa independência somada a falta de cuidados, propiciou que eu construísse esse medo irracional, porque é irracional mesmo. Eu não me lembro nem de como é vomitar, porque faz anos que isso não acontece comigo.. Como posso ter tanto medo de algo que eu nem sei como é e inevitavelmente todos nós, seres humanos, vamos passar um dia? É como ter medo da morte, e acredito que eu tenha medo disso também.. Vocês também tem medo da morte? Pode ser uma característica da nossa doença.

Outro aspecto da doença que já me foi dito, é que os emetofóbicos tem traços de transtorno obsessivo compulsivo, o que faz sentido, se você for pensar bem... No meu caso, o vomito faz parte da minha vida como se fosse uma pessoa que mora comigo. Eu acordo pensando nisso e durmo pensando também. As vezes penso em formas de me curar, as vezes o medo do vomito vem com tudo, as vezes penso que vou me livrar disso, as vezes acho que nunca vou me curar.. O que eu quero dizer, é que pra mim, é como se não existisse a Cinthia sem o medo do vômito.. ele já faz parte de quem eu sou... Essa obsessão pelo pensamento do vômito poderia indicar um tipo de TOC. Eu fui em um psiquiatra uma vez e ele me diagnosticou com sindrome do panico e traços de TOC, e me passou um antidepressivo e um ansiolítico. Confesso que detestei o psiquiatra, achei ele frio e arrogante,  e eu sou do tipo que precisa confiar muito no médico para tomar qualquer tipo de medicação. Eu e minha psicóloga estamos conversando muito a respeito da medicação, porque estou com medo de tomar. Nunca me imaginei tendo que tomar um antidepressivo, esses remédios são fortes, mudam alguns aspectos da personalidade da gente e ainda podem causar efeitos colaterais. E não é só isso, pode ser difícil de parar de tomar depois. Mas minha ansiedade e pensamento compulsivo estão tão fortes que estou muito inclinada a tomar, só estou reunindo coragem. Sei que o remédio em si não vai curar o medo de vomitar, o psiquiatra deixou isso bem claro, mas vai amenizar os sentimentos de ansiedade, angústia e medo, e só de fazer isso já vai ser um ganho!

A mensagem que quero deixar para vocês é a seguinte: busquem ajuda! Busquem tratamento, porque eu negligenciei esse transtorno durante anos, e olha só no que deu! Se eu tivesse buscado tratamento antes, talvez meu sintomas não estivessem tão fortes como estão hoje. Peçam ajuda para as pessoas que vocês confiam, procurem bons psicólogos, mesmo que seja um pouco caro, é muito importante e vai fazer diferença na vida de vocês! Eu ainda não encontrei o ritmo ideal de tratamento psicológico, mas eu já senti muitas mudanças desde que comecei e não me arrependo! E quero tentar todas as formas de tratamento, até hipnose se for preciso! Porque quero realmente vencer essa doença, nem que eu tenha que parar a minha vida pra isso, eu vou encontrar uma forma de ficar melhor! E se eu tiver que vomitar acompanhada nesse processo, eu faço, porque minha vontade de vencer é muito maior do que o medo de viver o resto da vida amargurada por essa doença. Não esmoreçam, procurem ajuda!

Na próxima postagem, quero conversar com vocês sobre as outras fobias que existem no mundo, e acreditem, são muuuitas! Comentem aqui sobre os sentimentos de vocês, os tratamentos que já fizeram ou que gostariam de fazer! 

Um grande abraço a todos e até a próxima!

sábado, 5 de março de 2016

Tenho emetofobia..... e agora?

Boa noite pessoal!!!


Como prometido, voltei para terminar de contar a minha história com relação a emetofobia. Como eu disse antes, me formei em Nutrição. Vocês devem estar pensando "O que? Uma pessoa que morre de medo de se alimentar, olha a validade de todos os alimentos e não come em restaurantes novos vai dar conselhos sobre alimentação? Sim!!! Eu entrei no curso muito com a intenção de entender melhor sobre os alimentos, seus nutrientes, composição e digestão, e eu acabaria superando esse medo insano do vômito... Bem, isso não aconteceu, obviamente, mas eu me apaixonei de verdade pelo curso, e hoje me orgulho de ser nutricionista, apesar dos meus problemas internos.. Acredito muito em destino, talvez eu esteja passando por isso justamente para ajudar pessoas que tem o mesmo medo que o meu!


Bom, terminei meu curso, formei e logo engatei um mestrado.. Estava muitissimo animada, fazendo mil planos, aproveitando muito... E gente, peguei uma virose! Acho que o estresse de estar trabalhando, fazendo mestrado, namorando e tals... Minha imunidade baixou e fiquei doente. E aconteceu o inimaginável... ou quase.. Eu tive apenas uma ânsia de vômito forte depois de um banho muito quente que tomei para baixar a febre e tive um princípio de desmaio (acho que minha pressão caiu).. Senti um misto de emoções naquele momento, naquele exato momento... Senti felicidade, porque uma metade de mim quer passar pelo processo do vômito como uma forma de cura,, E uma outra metade simplesmente entrou em pânico, e acredito que essa parte é a quem comanda até hoje as minhas emoções.. E se não precisasse ficar pior, minha mãe e minha irmã também pegaram a mesma virose que a minha. Minha irmã foi a que ficou pior... Ela vomitou muito, teve diarreia... Não consegui nem chegar perto dela para poder ajudá-la. E, sendo sincera com todos vocês, só existe um sentimento pior do que o medo...CULPA. E culpa é o que não falta aqui em mim, nessa época e hoje em dia. Imaginem o sentimento: você não consegue cuidar de você mesmo, porque não consegue lidar com o vômito, e não consegue ajudar nem aquelas pessoas que você ama... ou vai entrar em pânico e só piorar as coisas para todo mundo. Além de me sentir culpada por ter passado a virose, eu não fui útil pra ninguém... acho que elas estavam mais preocupadas com meu estado emocional.. Sei que elas não me culpam de nada, mas eu me senti uma completa inútil naqueles dias, uma fracassada, um ser humano fraco e idiota.

A partir desse dia, me acovardei. Passei a ter medo de tudo, qualquer sintoma ja era motivo para me apavorar.. Voltei a ser vigilante  com os alimentos, validade, lugares. E comecei a desenvolver uma ansiedade terrível.. Todos os dias, da hora em que eu acordava até a hora de dormir, eu me encontrava ansiosa e com medo de vomitar. Passei a ser uma pessoa triste, angustiada, amarga, medrosa ao extremo.. Comecei a desenvolver uma tontura crônica, que me deixava mais ansiosa ainda porque eu achava que ia vomitar e desmaiar no meio da rua... Parei de sair de casa, meu mestrado começou a ser prejudicado, meu emprego, meu namoro... Foi realmente a pior fase da minha vida. E olha que sempre fui extremamente ativa, sempre fiz tudo sozinha, pegava onibus, resolvia todos os problemas... E de repente me vi uma criatura frágil, pequena, medrosa, desesperançada. Achei que realmente não tinha mais saída pra mim, que eu seria simplesmente aquela menina que tem de medo de vomitar...

Mas recebi ajuda. Minha família percebeu o quanto eu estava mal, deprimida, sem esperança, cada vez mais sozinha, e passaram a me apoiar mais, conversar comigo e a tentar entender, aos poucos, o que estava acontecendo comigo. Passei a não dormir mais sozinha, sempre na companhia de alguém. E procurei ajuda na psicoterapia, que faço até hoje, Tentei tratamento com fitoterápicos, mas esses métodos requerem mais tempo, e eu achava que só estava piorando cada vez mais... Vou entrar em detalhes na próxima postagem em como meu tratamento está sendo feito e o que eu estou achando...

Não se esqueçam de comentar aqui como está sendo passar por essa batalha! Podemos trocar experiencias e tentar vários tipos de tratamento... Lembrem-se, juntos somos mais fortes!

Um forte abraço e até a próxima!

quinta-feira, 3 de março de 2016

Como tudo começou....

Como tudo começou....


Bom, primeiramente, quero contar para vocês como foi o início da minha doença e como fui levando durante a minha vida. Minha infância foi extremamente normal, pelo que eu me lembre, até os meus 7 ou 8 anos no máximo. Sempre fui uma criança muito ativa, alegre, brincalhona, que comia de tudo, e que sempre teve pais maravilhosos e amorosos (claro que em todas as famílias existem problemas, atritos e confusões, mas pelo menos comigo, nada que me afetasse de forma impactante) que me deram muito carinho e amor. Tenho uma irmã mais velha, e somos muito unidas e sempre fomos companheiras uma da outra. Pelo que eu consigo me lembrar, eu vomitava quando criança sim, tenho lembranças nítidas de dois episódios de vomito em que lidei muito bem e não tive problemas nessa época.

Porém, quando eu tinha aproximadamente 8 anos, minha irmã pegou uma sinusite fortíssima, em que ela ficou muito doente, e ela tossia tanto mais tanto que vomitava tudo o que tinha comido. Eu acredito que de tanto ver a minha irma passar mal (acredito que ela ficou umas duas semanas bem doente) eu desenvolvi um medo/panico de passar ou ver alguém passando mal. Meus pais me contam que depois de um tempo, era só a minha irmã tossir que eu já corria para me esconder, sabendo que ela passaria mal. Eles não deram importância pra isso na época, achavam que era uma coisa natural, mas eu acredito que foi aí que comecei a desenvolver aos poucos o pânico. Não vou ficar aqui teorizando e colocando toda a culpa nos meus pais, pensando que se eles tivessem dado maior atenção ao problema, tivessem conversado mais sobre isso comigo, etc, as coisas teriam sido diferentes. Talvez seriam? Sim.. Mas aprendi a perdoá-los por isso a algum tempo. Realmente essa fobia é pouquíssimo conhecida e estudada, e eles não poderiam fazer idéia de que um simples mecanismo de defesa do organismo pudesse causar tantos estragos psicológicos. Eles são pais, e pais erram tentando acertar. Simples assim.

Emfim, após esses acontecimentos, me lembro de não ter mais problemas com relação ao vômito. Na verdade, eu não vomito desde aquela época, e nunca tive problemas gastrointestinais. Sempre me alimentei bem, nunca fui de comer porcarias ou coisas gordurosas, então era muito saudável. Mas quando eu fiz 16 anos, passei um dia comendo demais, almocei bem, comi doce, comi bolo cheio de chocolate, sanduíche de fast food.. Ou seja, tive uma má digestão enorme nesse dia, coisa que não sentia há anos. Comecei a sentir muita azia, má digestão e depois, náuseas. Foi aí que o transtorno ganhou forma e força. Comecei a entrar em pânico, suar frio, hiperventilar, tomar antiácidos, comecei a implorar para o meu pai para que eu não vomitasse, chorar.... Não vomitei, mas as consequências psicológicas após esse dia acabaram comigo.

Depois desse dia, meu estômago nunca mais foi o mesmo. Ele ardia, eu não sentia fome, tudo o que eu comia me deixava empanzinada, com sensação de estufamento, sem apetite. E por causa desses sintomas, eu sempre achava que estava prestes a vomitar. Consequencia? Literalmente parei de comer. Nessa época eu pesava 52kg, um peso super normal para uma adolescente, mas depois de tudo isso, cheguei aos 37kg. Sim, fiquei tão magra que cheguei até a parar de menstruar. Foi bem ruim essa época, não conseguia me olhar no espelho, porque eu odiava o que eu via, odiava aquela pessoa magra, encovada, pilhada, que até cheirava os alimentos antes de come-los. Tinha um namorado nessa época, que não entendia o que eu passava, e vivia me dizendo aquelas frases clichês, do tipo "vomitar faz bem", "gravida vomita sabia? Como você vai ter filhos?" "É só ir la no banheiro e deixar acontecer". Eu sentia tanto ódio dessas palavras que nem respondia, No fim terminamos e eu sofria muito ainda com esse problema.

No total, passei 3 anos de sofrimento intenso por causa da emetofobia. Muitos dias sem comer, crises de fraqueza, perda de peso, tristeza, solidão. Você sente vontade de comer de tudo, sente desejo por se alimentar bem, mas o medo é tão forte que ele consegue te impedir disso. A minha sorte é de que naquela época eu não tinha crises de ansiedades extremas, como tenho hoje. Eram mais controladas, só quando eu achava que ia acontecer mesmo, ou quando comia algo muito diferente, ou ia em algum restaurante novo. Aí passava horas acordada com medo até que a fome chegasse e eu pudesse respirar tranquila. Até que teve um tempo, depois que entrei na faculdade (sou nutricionista, acreditem) que fiquei mais tranquila. Perdi aquela vigilância extrema dos alimentos, passei a comer melhor, ganhei peso, aumentei a quantidade e diversidade dos alimentos. Engordei 9kg e realmente achei que ia conseguir superar aquilo tudo. Mas como a vida não foi feita para ser fácil, nem tudo foi um mar de rosas e levei não só uma rasteira, mas um verdadeiro hipon da vida!

Na próxima postagem eu conto mais para vocês sobre os desdobramentos da minha vida e como consegui encontrar o fundo mais fundo poço.. Mas não se preocupem, as coisas não estão tao ruins quanto parece... A esperança quase morreu, mas está viva ainda!

Um grande abraço a todos e me contem suas experiências aqui no blog!
Bem vindos pessoal!

Decidi criar esse blog na intenção de expressar meu sentimentos, angustias, medos e reflexões sobre a emetofobia, uma doença que causa muita angustia e sofrimento para quem a tem! Só quem passa sabe o sofrimento diário de quem tem uma fobia precisa passar, toda a ansiedade, o medo e a expectativa de algo terrível está prestes a acontecer! Você acaba não vivendo seu dia a dia de forma satisfatória, seu rendimento no trabalho começa a despencar, suas ideias de futuro começam a ser todas afetadas... Realmente você começa a ver sua vida parar, e o medo do vômito tomar conta de tudo!


Aqui será um espaço para que possamos, juntos, buscar respostas sobre esse transtorno, trocar experiencias de tratamento, terapias, sentimentos e angústias, e porque eu acredito, com toda a sinceridade, de que tudo nessa vida tem tratamento e tem possibilidades! Nós que sofremos dessa doença sabemos o tabu que ainda existe em torno desse assunto, as frequentes acusações de "frescura" que sofremos, e a sensação de que nunca levaremos uma vida normal. Eu já fui umas dessas pessoas que chegaram no fim da linha da esperança. ao ponto de não acreditar mais que eu pudesse levar uma vida normal. Mas decidi reagir, e em situações de ameaça, qual a melhor solução para os problemas? Tentar enfrentar de frente!

Sei que juntos podemos vencer esse mal! Só com o conhecimento e o estudo poderemos reunir fatos e relatos sobre como melhor tratar essa doença de forma satisfatória! Conto com vocês para vencermos essa doença!!!!